A “Conferência IV: Redefinição MELD. O que mudou e quais resultados são esperados?” foi uma das sessões do programa científico do Congresso Português de Hepatologia, promovido pela Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF). Rafael Bañares foi o palestrante internacional da sessão, clarificando o tema do score MELD (Model For End-Stage Liver Disease), num panorama europeu onde a taxa de transplantação de fígado é bastante variável.
“A questão mais importante que abordei foi a relevância e as dificuldades de prognóstico em pacientes com doença hepática crónica avançada. A complexidade desta doença e a necessidade de fornecer um sistema de alocação justo e ético para o transplante de fígado também foram destacadas. Por fim, mencionei como a pontuação MELD evoluiu e as questões metodológicas que melhoraram o sistema. É importante ressalvar que a consideração de género na última versão do MELD 3.0 é de suma importância”, salientou o convidado.
Por outro lado, o professor catedrático de Medicina recordou como o score MELD apresenta uma história relativamente longa, sendo inicialmente projetado para avaliar os resultados de pacientes que receberam TIPS (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt) e que evoluiu rapidamente para um score de prognóstico mais abrangente. Na prática clínica, é quase utilizado universalmente para alocar pacientes para transplante hepático, devido à sua ampla validação nos Estados Unidos da América e na Europa.
Fazendo uma comparação com outros sistemas de classificação, como o Child-Turcotte-Pugh, Rafael Bañares sublinhou a vantagem do MELD fornecer uma estimativa contínua do prognóstico sem o efeito teto característico do score clássico de Child-Pugh. “Além disso, o score MELD é composto por variáveis objetivas que contribuem para a homogeneização do seu cálculo em diferentes hospitais e países. No entanto, não cobre a complexidade da patogénese da cirrose e sua influência prognóstica nos diferentes cenários clínicos. Portanto, há a necessidade de refinar ainda mais os indicadores prognósticos”.
O especialista espanhol acrescentou que, apesar do MELD contribuir para uma melhor distribuição de transplantação, que prioriza os mais doentes, existe uma dificuldade em evitar completamente a mortalidade nas listas de espera, quando a taxa de doação é baixa. Outros fatores, como a melhoria da gestão dos pacientes hepáticos (prevenção de complicações, terapia adequada, entre outros) também são extremamente importantes no processo.
Resumindo a sua primeira experiência no evento da APEF, Rafael Bañares afirmou que apresentava grandes expectativas, especialmente no que diz respeito ao nível científico das apresentações. “Sinto-me muito honrado em participar neste encontro. Fazer uma apresentação num encontro internacional é sempre um desafio relevante. Nesse caso, e considerando a importância do tema, esse desafio pode ser ainda maior. Espero ter correspondido às expectativas dos organizadores”.