O Curso de Nutrição Clínica na Doença Hepática da Associação Portuguesa Para o Estudo do Fígado (APEF) proporcionou a realização de cinco mesas-redondas, sendo uma delas sobre a “Dieta, microbioma e efeitos da hipertensão portal”. A nutricionista Marta Carriço fez parte do conjunto de profissionais de saúde que deram voz a esta temática, procurando abordar o papel do microbioma e assim clarificar a ligação entre o fígado e intestino.
Qual a importância do tema do qual é palestrante (“Dieta, microbioma e efeitos da hipertensão portal”)?
Marta Carriço (MC) – Percebe-se que existe uma interação bidirecional entre o fígado e o intestino, através do eixo fígado e intestino. Na presença de disbiose, um perfil de microbiota negativo, há um aumento de inflamação, o que, por sua vez, pode agravar a lesão hepática e, possivelmente, a hipertensão portal. Portanto, perceber melhor o impacto do intestino e do microbioma no agravamento da lesão hepática é cada vez mais importante.
Relativamente à sua intervenção em específico (“O papel do microbioma”), o que nos pode dizer?
MC – A microbiota demonstra ter um papel muito importante na homeostase do organismo e pode ter um papel no início e/ou progressão da doença hepática. A disbiose intestinal pode contribuir para o aumento dos níveis de inflamação e endotoxemia, o que, por sua vez, pode estar associado ao início e/ou agravamento da hipertensão portal. Esta relação necessita, claramente, de mais investigação, mas a verdade é que estão a ser já pensadas e estudadas estratégias, no contexto cirrose e hipertensão portal associada à cirrose, dirigidas especificamente ao tratamento da disbiose e permeabilidade intestinal (frequente nestes doentes, entre as quais: dieta, a transplantação fecal, simbióticos, entre muitos outros).
O que é que este tema pode acrescentar a todos os participantes?
MC – Acima de tudo, espera-se que esta temática possa suscitar curiosidade e alertar para o impacto do eixo fígado-intestino, no desenvolvimento e progressão da doença hepática, particularmente no contexto da cirrose e das suas complicações, tal como a hipertensão portal. Apesar de a evidência ser ainda limitada, esta relação bidireccional é cada vez mais óbvia. Neste sentido, penso que discutir o papel do microbioma e estratégias terapêuticas dirigidas não só ao microbioma, mas também à permeabilidade intestinal, presente neste contexto, pode constituir uma nova oportunidade para o tratamento da doença e, eventualmente, um melhor outcome clínico.
Na sua opinião, qual a importância da realização do Curso de Nutrição Clínica na Doença Hepática?
MC – A dinamização deste curso por parte da APEF é claramente de congratular. A alimentação e a nutrição têm influência no desenvolvimento e progressão de uma doença hepática, bem como na gestão das complicações. Assim, a promoção de encontros que visam capacitar os profissionais de saúde sobre a importância da alimentação na prevenção da doença hepática, mas também do estado nutricional do doente hepático e das diferentes vertentes da intervenção nutricional, é extremamente importante.
Quais foram as suas expectativas em relação a este curso?
MC – Enquanto nutricionista, penso que este curso promoveu discussões, partilha de experiências, dificuldades e estratégias para a gestão clínica do doente hepático. Mas penso, também, que promoveu awareness para a importância da nutrição e o quão importante é trabalhar em equipa em prol do doente. Acredito que, quer os formadores quer os participantes, saíram deste curso mais «ricos».