A obesidade é um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI, com repercussões significativas em diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Entre as muitas complicações associadas ao excesso de peso, o impacto na saúde do fígado tem ganho destaque pela sua gravidade e crescente prevalência. No âmbito do Dia Mundial da Obesidade, que se assinala a 4 de março, é essencial refletir sobre como a obesidade afeta este órgão vital e sobre a necessidade de medidas preventivas e de tratamento.
O fígado, responsável por funções como a desintoxicação do organismo, a síntese de proteínas e o armazenamento de nutrientes, é diretamente afetado pela obesidade. Um dos problemas mais comuns é a esteatose hepática, vulgarmente conhecida como “fígado gordo”. Esta condição caracteriza-se pela acumulação excessiva de gordura nas células hepáticas, muitas vezes resultante de maus hábitos alimentares, sedentarismo e desequilíbrios metabólicos associados à obesidade.
Embora esta condição seja inicialmente assintomática, a sua progressão pode levar a inflamação do fígado, fibrose e, em casos mais graves, à cirrose e ao carcinoma hepatocelular. Alguns estudos mostram que a obesidade é um fator de risco independente para estas condições, mesmo na ausência de outras causas de doença hepática, como as infeções virais ou o consumo excessivo de álcool.
A obesidade contribui para a resistência à insulina e para o desenvolvimento da síndrome metabólica, condições que exacerbam os danos hepáticos. O fígado passa a lidar com uma sobrecarga de ácidos gordos livres e de substâncias inflamatórias provenientes do tecido adiposo, o que agrava a sua disfunção e acelera o desenvolvimento de complicações.
A boa notícia é que a saúde do fígado pode melhorar significativamente caso haja mudanças no estilo de vida. A perda de peso, mesmo que moderada, tem demonstrado reduzir os níveis de gordura hepática e melhorar os marcadores inflamatórios. Uma alimentação equilibrada, rica em frutas, vegetais, proteínas magras e gorduras saudáveis, juntamente com a prática regular de exercício físico, é fundamental para prevenir e tratar a obesidade e o seu impacto no fígado.
O diagnóstico precoce das doenças hepáticas relacionadas com a obesidade também desempenha um papel crucial, permitindo intervir antes que o fígado sofra danos irreversíveis. Neste Dia Mundial da Obesidade, é imperativo reforçar a consciencialização sobre a importância de cuidar do fígado, abordando a obesidade como uma prioridade. Proteger este órgão vital significa investir na saúde e bem-estar de toda a sociedade.
Artigo de Opinião de Arsénio Santos, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF)