“Todos os anos, em Portugal, surgem mais de 1.300 novos casos de cancro hepatocelular (CHC). Nos últimos dez anos, a imunoterapia (IT) tem sido uma área de pesquisa crescente, o que permitiu a descoberta de novas armas terapêuticas para uso também nestes casos, com eficácia comprovada. Isto resultou num crescimento da taxa de sobrevivência destes doentes e uma melhoria da qualidade de vida dos mesmos”, afirma Valter Teixeira, enfermeiro do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) e responsável pela organização do Curso “Imunoterapia do CHC: o papel do enfermeiro”, que está a decorrer neste momento, justificando assim a pertinência do tema.
E acrescenta: “A realização deste evento tem como objetivo não só compreender a importância da IT no cuidado ao doente com CHC, como também compreender a especificidade do armazenamento e as etapas de preparação da IT, dando a conhecer os tratamentos de IT disponíveis em alguns Hospitais do SNS.”
De acordo com Valter Teixeira, os profissionais de saúde que lidam de perto com doentes com CHC necessitam de se manter informados acerca dos tipos de tratamento disponíveis, assim como das inovações que estão a ser realizadas no terreno pelas diferentes instituições de saúde. O enfermeiro aponta ainda outro motivo, que passa pela aquisição de novos conhecimentos “no sentido de melhorar a qualidade dos cuidados prestados e a prática clínica”. Por outro lado, e tal como refere, com a realização deste curso, pretende-se também a partilha de conhecimentos entre os vários profissionais de saúde das diferentes regiões do país, de forma a conseguir compreender-se as diferentes realidades, atendendo à variedade de doentes diagnosticados com CHC e que fazem IT.
Ao ser questionado acerca do papel do enfermeiro na Imunoterapia do CHC, o responsável pela realização deste curso responde: “Tal como em qualquer outra patologia o enfermeiro tem diversos papeis, desde a promoção da saúde até à gestão da doença. Assim, e sendo o enfermeiro o profissional de saúde que mais tempo está com o doente, tanto a nível de internamento nos hospitais de dia, estes profissionais tornam-se, por isso, o elo entre quem prescreve os tratamentos e quem os recebe. Para tal, é importante que nós consigamos criar empatia necessária com os doentes, por forma a elucidá-los acerca da sua doença, da importância dos tratamentos prescritos e da gestão terapêutica e sintomática. Só desta forma se consegue que os doentes e os cuidadores estejam atentos a todos os sinais de alerta, fazendo chegar aos enfermeiros essas informações com a maior brevidade possível, para que possam ser tomadas as atitudes necessárias.”
Continuando a sua resposta, Valter Teixeira indica ser também “de extrema importância” o papel do enfermeiro na administração da imunoterapia, na medida em que é necessário estar atento aos possíveis efeitos adversos durante a administração dos fármacos para que se possa atuar rapidamente em caso de necessidade.
“A gestão das expetativas e da ansiedade relacionadas com a doença e com os tratamentos com imunoterapia é também uma das funções que cabem em parte ao enfermeiro, na medida em que, mesmo durante a colheita de analises ou durante a realização do tratamento, os doentes sentem a necessidade de verbalizar as suas dúvidas e os seus anseios em relação à situação pela qual estão a passar”, observa.
Ao referir que este curso conta com 19 enfermeiros e quatro farmacêuticos como participantes, Valter Teixeira afirma ter como expectativa para este curso uma futura reunião com o grupo, para a construção de protocolos, de forma a melhorar os cuidados prestados aos doentes hepáticos, nomeadamente aos doentes com CHC. “Pretendemos também, criar um grupo de enfermeiros de hepatologia, que estejam dentro da APEF, a fim de podermos prosseguir com trabalhos de investigação dentro da área da hepatologia”, conclui.